Á Primeira Vista II - Pedro e Geovana

sexta-feira, novembro 18, 2016



   Ela sempre esteve ali. Ela incrivelmente sempre esteve ali: num banco rindo com as amigas, na fila da cantina pronta para comprar um refrigerante, no corredor das salas do Ensino Médio, passando ao meu lado. Eu sempre a vi, já desviei para não esbarrá-la, já pedi licença para passar por ela, já citei ela em conversas - "Sabe aquela menina do primeiro ano?" "A Ana?" "Não, a Geovana". Era incrível ela estar ali e eu sempre tê-la visto. Até ontem...que foi quando a enxerguei.

   Ontem foi o último dia de aula. Eu estava finalmente indo para o terceiro ano, já com o curso de Engenharia da Computação em mente. As turmas se reuniram no pátio da escola para a despedida de alguns alunos e para a mini festinha que faríamos para isso. Era coisa básica: algumas salas ficaram responsáveis pelo refrigerante, outras pelos salgadinhos e a minha pelos doces. O terceiro ano festejava, esbravejava e soltava seu grito de guerra já clichê "Terceirão do terror, do amor, e vencedor". Outras turmas, como a minha, pintavam a camiseta e desenhava na camiseta de um aluno que estava saindo, o Thiago. Eu estava naquele bolo, todo sujo de tinta já. Era um círculo abarrotado de alunos em volta do garoto, abaixados para desenhar até no cós da camiseta, outros de pé, rabiscando uma borboleta em seu rosto.


Depois de escrever uma longa mensagem de despedida, me levanto e olho para os lados, tentando achar um espaço para sair do meio, e vejo outro bolo de alunos, mas dessa vez do primeiro ano, em volta de uma garota. Ela estava de costas, tinha os cabelos castanhos, e as costas de seu uniforme já estava repleta de frases.

Ela se virou e vi que era a Geovana do primeiro ano. Mas...ela estava tão diferente. Diferente de uma forma boa. Quer dizer, muito boa! Geovana estava indescritivelmente linda. Era como se uma nova garota, completamente renovada tivesse entrado em seu corpo. Assim que se virou eu era a primeira pessoa que estava em seu campo de visão e ela me olhou com seu olhar caramelo penetrante, lançou-me um sorriso lindo. Não soube o porquê fui privilegiado com algo tão belo, já que eu e ela nunca nos falamos, mas, esse sorriso, ficou fotografado em minha mente. Para todo sempre. 

Duas garotas colocaram um arranjo de margaridas em sua cabeça, e aquele sorriso dobrou de tamanho, no mesmo instante em que meu coração dobrou os batimentos por segundo. Ela olhava para cima, tentando enxergar aquela coroa, com seus olhinhos agora brilhantes e uma expressão de "ai meu deus, que lindo". Já eu...Bem,eu devia estar com uma cara de idiota do ano, mas com certeza ninguém estaria vendo, já que a beleza de Gê poupava qualquer esforço de procurar um ponto para observar. Ela era ímã, era beleza, ela era uma deusa, era a Geovana do primeiro ano - que eu nunca enxerguei. Agora sim eu a vejo, a vejo como ela sempre mereceu que fosse vista.

O sinal bate, e os alunos se afastam, pegando mochilas, sacolas, restos de salgado, enquanto eu tentava pegar meu coração, que batia fora da boca, ainda inerte naquela garota. Geovana sai do meio dos amigos, com sua mochila cheia e rosa, nas costas, passa por mim como se eu fosse um nada e não a culpo: eu realmente fui o maior nada do mundo, não vendo aquela garota há tanto tempo comigo. Agora ela está indo embora, para outra escola, para eu nunca mais a ver, mas para alguém a enxergá-la também, mas agora mais cedo (do que eu).

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