Compartilhamento de imagens trágicas: sensibilização ou banalização?

quarta-feira, dezembro 28, 2016


Estamos fartos de ouvir que a “Era da Tecnologia” é agora, que a ideia de compartilhamento, de interação, das notícias em um segundo é característica do século XXI. Mas até que ponto isso é bom? Até onde vai o limite?



Veja bem, uma bomba explode no Oriente Médio, uma família sem casa, uma criança ferida, fotos – que logo estão em chamadas do jornal do horário nobre, capas de jornais, no seu feed do Facebook. É claro, nos sensibilizamos, afinal, brasileiros tem um coração grande, por se tratar de uma criança vítima do extremismo religioso, problema não comum aqui. “Coitada, tadinha, não merecia isso”. Lemos o que aconteceu, pessoas se calam para ouvir a repórter relatar a tragédia, a qual já foi repetida cerca de dez vezes em cinco minutos.

No outro dia, a mesma imagem ou novos vídeos amadores, a mesma criança, a mesma tragédia, as mesmas chamadas sobre o fato. Mas brasileiros também são seres humanos, e ficam fartos da imploração de jornais para subirem a audiência , do calor da notícia ter passado e aos poucos, aquela criança está judiada, atacada, indefesa em sua televisão, olhando com olhos de trauma sua indiferença enquanto a ignora, como se ela fosse uma peça de roupa que saiu de moda.

A culpa não está no telespectador, está na mídia, que achando que atingir seu objetivo de subir a audiência não é afetar tal desgraça, assim nos acostumando com a ideia de que a violência existe e que é normal: a morte, o sofrimento, a dor. A sensibilização com o tempo se torna no trágico sentimento de banalização - eis que me pergunto qual a maior tragédia: a bomba ou a frieza? A frieza não só no coração de brasileiros, mas sim de um mundo inteiro. A banalização da mesma família que se calou para ouvir a notícia; da mesma senhora que sentiu um imenso aperto no coração ao ver a criança; da mesma mãe que imaginou seu filho naquela situação. É desgastante como uma borracha que apaga sempre o mesmo erro, e que depois de um tempo, ela acaba, mesmo que o mesmo persista.

Ficar imerso em clicks de uma tragédia não aumenta o grau de sensibilidade de alguém, já que a sensibilização deve existir independente de uma ferida exposta, de escombros ou de um doloroso choro em rede nacional. Ela deve existir no coração do ser humano, mas que, infelizmente, está se desmanchando.

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